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Colocou o fone de ouvido e deu largada no shuffle. - Ligar... Fat burn... Start - falou consigo. Começou a andar lentamente; o ritual dos cinco minutinhos de aquecimento. - "Born to be wild... Born to be wild..."- cantava. Olhou ao redor. Alguns alunos corriam, outros levantavam peso. Uma senhora olhava fixamente para a televisão enquanto movimentava os pedais de sua bicicleta. Curioso, voltou a atenção para a caixa luminosa, estava no canal de esportes. O correspondente comentava, em closed caption, sobre o jogo do Peixe. Lia, interessado, enquanto iniciava a corrida e, para não cair, segurou nas barras laterais do aparelho. Olhou para o painel a fim de cronometrar seu desempenho, mas ao invés dos tradicionais números e quilometragens, os tracinhos fluorescentes compunham uma frase: "Limite máximo de velocidade: 60km/h" - Quê? - disse, estranhando e parando a música. Tomáz esfregou os olhos, estava delirando? Ignorou o aviso e aumentou o passo, apertando o botão. O aparelho vibrou fortemente e soltou: "Eu disse: limite máximo de 60km/h. Entendeu agora, infeliz?" - Que se dane o limite! Me multa então! - falou, intensificando ainda mais o exercício. "Ah, você quer correr!?" As pernas fortes de Tomáz não foram suficientes para a insanidade do aparelho. Soltava "Há! Há! Hás!" enquanto trucidava as articulações do jovem. - Pare! Pelo amor de Tauron! – esbaforiu. "Ué? Não queria queimar calorias? Mexe essas coxas de boi reprodutor!" Estava em seu limite. Nunca havia corrido tanto e tão rápido. Usain Bolt tinha ficado no chinelo e lá onde ajudaria São Judas a encontrar as botas, ou as sapatilhas. Parecia uma centopéia transgênica. "Tá cansado? Eu te ajudo!" Deu a última gargalhada malcriada e prendeu o rapaz pelos tornozelos, com suas garras metálicas. - Desgraçaaaaaaaaaaaaaaaaaada! - gritou, enquanto era retirado do plano. A máquina chacoalhava-o como coqueteleira de barman, a dois metros do chão. - Me solta! Me solta! - esperneava.
“Não!”
- Por favor!
"Tá bom!" Tomáz bateu com tudo os glúteos na esteira. "Você que pediu." Aquilo doeria muito quando seu corpo esfriasse. Olhou atordoado para o aparelho. Nem frases malucas ou avisos mortais. Era um simples painel de esteira de academia. Não entendeu nada. Objetos são aparentemente inofensivos e estáticos, e nitidamente maléficos quando irritados.
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