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Observou-a tão vistosa. Já havia visto outras, mas não como aquela. A cerca envolta tornava-a quase sagrada. O vento, quando batia em suas folhas, fazia do movimento, hipnótico. Diariamente o garoto passava por aquela rua. Poderia fazer um caminho mais curto, menos sinuoso, mas fazia questão de ingressar naquele transe. Como era bela! As outras tinham seu charme, mas essa, um inexplicável encanto. Talvez fosse sua forma mais arredondada que as outras árvores, ou até mesmo seu colorido gracioso. O que importava é que as mangas que ali pendiam exalavam tal magia que, relutar, era impossível. Só de olhá-las, fantasiava seus sabores. A possível doçura acariciando sua língua deixava-o atônito e incitava-o à descoberta.
Viu um dos frutos caídos, sua metade inferior, escura, fazia notável tal fato. Por que estava ali isolado? Por que não junto aos outros? Por que despencara? O que o fez? Talvez alguém tivesse esbarrado no caule, provocando o acidente. Talvez o forte vento o tivesse feito. Talvez fosse apenas a ação da natureza, que decidiu assim. O menino não sabia; só desejava ardentemente recolocá-la na bela árvore e admirá-la até suas retinas exaurirem-se.
A criação de expectativas nos leva a um nível irreal da consciência. Formula-se um estereótipo e, aquilo almejado, pode ser extremamente decepcionante ou sublime. A realidade torna-se dolorosa e indigerível, quando o que mais se quer é absorver apenas o sonho.
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