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Variantes gastronômicas

Foto do escritor: Sandra BraikSandra Braik

Apertou com tanta vontade causando-lhe quase biópsia. ‘Esse tá muito queimado’ – disse a si, devolvendo-o para a garçonete. Continuou pela larga vitrine analisando minuciosamente todas as opções. Pareciam tão iguais. Teria que escolher o mais apetitoso.


Seu dedo ansiava por destruição. Enfiou o largo polegar na maciez enquanto a garçonete o reprimia mortalmente com os olhos. ‘Hum, acho que tá perfeito... Vou levar’ – disse sorrindo. ‘Ah, vai mesmo!’ – pensou ela ao mesmo tempo que embalava o doce.


- O de sempre, Sr. Lobato? – perguntou a caixa


- Não, hoje vou experimentar o amarelinho - disse, o senhor, sorrindo


- Vinte e três reais.


- Quanto?


- Vinte e três reais – repetiu bondosamente


- Mas esse doce sempre custou dois e noventa! – reclamou indignado


- Ah, é que esse é um sabor diferente. Acabamos de lançar.


- Devia ter ficado com o de sempre – reclamou, Lobato, enquanto colocava o docinho, já sem gosto, na sacola.


Será que a variedade de sabores é apenas uma estratégia de mercado para aumento das vendas? O brasileiro tem necessidade do diferente, do novo? Será que as variantes não seriam intrínsecas ao homem; já que este necessita de criatividade e diversificação? Seria uma questão cultural?

A mistura de raças e crenças pode talvez ser a explicação para uma característica perceptível que o diferencia do mundo: o brasileiro é altamente criativo. Essa capacidade, por consequência, é realizada também com os alimentos? Composições inovadoras de chefs , gastrônomos e cozinheiros que geram curiosidade fazem com que os brasileiros tenham interesse em descobrir, experimentar. É aí que entra a diversificação de sabor. Exemplo simples: só a esfiha de carne habitava as prateleiras das lanchonetes. De tempos em tempos, visando destaque meio à concorrência, o cozinheiro criou novo sabor, para que com isso seus costumeiros clientes pudessem realizar possível compra agregada e, por consequência, experimentar a diversificação intrínseca.

Levanto uma questão primordial: é o capitalismo que cria uma cultura ou é a cultura do brasileiro que move o capitalismo?

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