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Numa pequenina loja um motoqueiro
Abastece de remédios seu baú,
Monta nos círculos emborrachados,
Despede-se do vizinho marceneiro
Para mais uma entrega na zona Sul.
Sua jubilosa missão é vidas salvar,
Entregando encapsulada medicina,
Arriscando cônscio, seu próprio pulsar.
O alfaiate da celulose
Que há muito em nada mexia,
Nem em suas raízes,
Nem em sua apatia,
Com indiferença os rapazes ao lado via.
Não conseguia mais se mover para criar
Havia deixado a madeira para outro usar.
Muitas sacolas um dia o garoto
Precisava despachar e,
Ajuda de um garupa teve
Para a encomenda levar.
Quando a poucos metros
De olho nas rodas da dupla
Um bum o marceneiro ouviu ecoar:
Carro chocando,
Sirene chegando,
Sangue jorrando.
Metade das vidas se foi no desacelerado peito
E da outra não restou o pulso direito.
No girar de emoção o entregador se perdeu.
O amor por salvar vidas não mais sentia,
Sentado em sua profunda melancolia
Que a inerte morbidez lhe concedeu.
Triste rotina o marceneiro assistiu
Por semanas a fio
Até que num despertar de comoção
Fez-se voltar à ação
E seu dom a esperança o restituiu.
Sem remetente, o jovem o lacre abriu
De um pacote que em sua moto surgiu
E uma mão de madeira lá viu.
Para o lado olhou renascido,
Uma lágrima brotou, comovido.
O talentoso velho
Uma nova vida construiu
Ao garoto que,
De viseira aberta
O rumo retomou
E ao asfalto partiu.
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